quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Labirinto das Trevas


para quem leu “O Quarteto de Alexandria” e se deixou conquistar por uma história que é sucessivamente recontada, recriada, relembrada e reinventada a 4 vozes, em outras tantas novelas, a saber, Justine, Baltasar, Mountolive e Clea, para essa pessoa, a leitura de “O Labirinto das Trevas” pode deixar sabor a muito pouco.

após anular conscientemente esse efeito habitual, em que uma obra se estabelece como referência, com a qual todas as outras obras do autor são comparadas, “O Labirinto das Trevas” pode surgir como uma obra curiosa, uma pequena pérola com um sabor a fim de guerra, fim de época, que nos leva a reflectir sobre a nossa própria época e renova as questões essenciais sobre o propósito e o alcance da nossa vida individual e colectiva.

o labirinto é um símbolo arquetípico muito forte que remete para a procura iniciática em direcção à luz e ao renascimento, após um percurso cheio de escolhos e trevas. alguns alcançam o centro, outros alcançam a saída, outros ficam pelo caminho, perdidos nas opções que fizeram, certas ou erradas, perdidos na recusa de enfrentar esse caminho em direcção à iluminação.

neste livro, Lawrence Durrell faz-nos acompanhar o percurso de algumas personagens, cada uma com a sua história, que durante uma visita a um labirinto em Creta sofrem as consequências de uma derrocada e ficam aprisionadas no seu interior. assim, aquilo que não passava de uma visita turística ao labirinto (comparável aqueles momentos em que fazemos um esforço por enfrentar as nossas questões essenciais, esforço que abandonamos, tantas vezes, pela dificuldade de enfrentar/aceitar a nossa realidade) transforma-se numa procura de respostas para aquela situação extrema.

alguns não conseguem por incapacidade ou recusa, outros fazem-no com muita dificuldade e custos pessoais, outros alcançam, por sorte, a saída ou atingem o centro oculto do labirinto, ou seja, um conhecimento de si próprios que oferece alguma dimensão de resposta e de paz.

neste livro além da elegância da escrita de Lawrence Durrell há a sensação de quem trata de coisas sérias com um enganadora ligeireza. após ler O Labirinto das Trevas, fica a pergunta sobre se atingimos o cerne da questão e fica a certeza de que não é preciso entrar num labirinto real para reconhecer as fronteiras do nosso prórpio labirinto interior e a sua porta de entrada.

"O Labirinto das Trevas"
Autor: Lawrence Durrell
Tradução: Miguel Serras Pereira
Edição: Ulisseia
uma chancela Babel

Sem comentários:

Enviar um comentário