quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

no more


it broke inside,
as a stick it broke.
now, I stand with two matching halves.
with halves in my hands I stand.
can’t fix what is broken,
make it good again.

with broken pieces I stand.
as if hot iron bits in my hands.
i stand, unmoved, void.
a bittersweet memory,
of what is no more

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

sentimento bravo


sentimento bravo
corre por mim
explode, incendeia, regenera

mais vivo
primeiro voo
amanhecer

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

morte (de) velha


uma mulher com quase 90 anos foi encontrada morta em sua casa. estava morta desde 2002, caída no chão da cozinha, acompanhada por um cão, igualmente morto. só foi encontrada hoje.

eles são chamados de velhos, idosos, seniores, terceira idade, quarta idade. se não temos o azar de nos acontecer alguma coisa de definitivo que nos leve para outro horizonte, seremos idosos um dia.

as condições que a nossa sociedade proporciona aos idosos pioram. as condições que a sociedade proporciona às famílias para cuidar dos seus idosos são nenhumas. a vida não está para velhos, nem para novos.

como cuidar de um familiar idoso se temos que nos levantar todos os dias para ir trabalhar e estamos fora de casa, no mínimo, entre as oito da manhã e as sete da tarde. como cuidar dos idosos se temos que ir buscar as crianças ao colégio (para as quais temos pouco tempo!), trazê-las para casa, obrigá-las a fazer os trabalhos de casa, enfardar-lhes o jantar, deixá-las frente à televisão, porque assim não chateiam e metê-las na cama?

como cuidar de um idoso, o fim da linha, se não cuidamos dos filhos, se não cuidamos de nós?

porque neste vórtice a que chamamos vida, em que consumimos os dias, escravos da sociedade e de nós, não sabemos cuidar dos outros, filhos, pais, avós. as nossas prioridades estão invertidas e pensamos: um dia serei diferente, um dia vou parar, um dia, um dia... e quando o dia chega perdemos os filhos e perdemos os velhos. não sabemos cuidar de nós.

uma velha morreu no chão da cozinha de um apartamento da rinchoa. uma velha e um cão. foi notícia hoje e talvez ainda seja notícia amanhã. um dia destes, estes casos não serão mais uma notícia, mas algo habitual e já nem sequer estranho.

o ocaso da vida devia ser como um belo por-do-sol, não?

o sol desce sobre o horizonte inexoravelmente mas com uma calma sereníssima. mergulha espalhando cores e cores, tingindo o mundo em redor.

a velha que morreu na rinchoa não morreu só, morreu com um cão.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ser


voo sobre a tua existência

procuro a frase que te define

nas pontas dos dedos que vejo

sobre a superfície da água

criando círculos concêntricos


são pedras postas à volta da lua

são sinais,

são marcos para me orientar


nem corpo, nem espírito

nem som, nem escrito

nem princípio, fim

ou destino


tu não existes

tão certo como eu

ser