segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

alternativa? emigrar!


o primeiro ministro de Portugal aconselhou os professores desempregados a emigrar. esta parece ser uma das soluções possíveis para os professores desempregados e, pelo menos, é uma das primeiras soluções a ser avançada para ajudar a resolver o problema destes profissionais. trata-se da segunda vez que, detentores de cargos públicos de elevada responsabilidade neste governo, sugerem a emigração como meio de resolver a questão do desemprego.

no mínimo, parece-me estranho e pouco ético que, um primeiro ministro democraticamente eleito para arcar com a responsabilidade de, entre outros, ajudar a resolver o problema do desemprego, aconselhe a emigração os seus concidadãos. esta forma de concorrer para a resolução do problema parece-me má.

no entanto, não deveria ficar surpreendido. a sugestão é representativa da situação política a que chegámos com, pelo menos, 30 anos de má governação, em que, no fundo, todos estamos implicados, co-responsáveis que somos pela eleição democrática de partidos cujas prioridades, discutíveis e decisões negligentes redundaram, volta e meia, em sacrifícios pedidos aos cidadãos. não são os sacrifícios que me motivam uma visão negativa mas sim, continuarmos sem uma linha de rumo, uma prioridade estratégica, uma aposta a médio e a longo prazo que constitua fonte de esperança e de sentido para Portugal.

assim, com sugestões destas, verifica-se facilmente que continuamos um povo “merceeiro” que na riqueza e na pobreza continua a pensar no presente e...” quem cá ficar que o ganhe!”... as várias ondas de emigração por que Portugal passou, nomeadamente nos anos 60 e 70 do século XX, com vários custos sociais, culturais e familiares foram esquecidas. temos fraca memória!

de que vale apelar à unidade nacional, à defesa de valores nacionais, à solidariedade, ao espírito de sacríficio, ao orgulho, quando a resposta que se dá é: estão a mais, não temos trabalho para vós, vão-se embora, desenrrasquem-se.

estou farto das caras compungidas a falar do esforço nacional necessário, de imperativo nacional, de sacrifícios para todos, de justiça social, etc. acho nojento falar do princípio do utilizador pagador aplicado às portagens das ex-SCUT e ao acesso à saúde. estou farto do desnorte, da falta de rumo, da ausência de solução, da demagogia, do engano, da falsa esperança, das palavras. vivemos tempos em que cada vez mais sob um manto diáfano de fantasia se vai construindo uma realidade em que a nudez forte da verdade se traduz em massificação e insensibilidade social. há um novo tipo de escravatura do cidadão comum, que de maneira já não branda e insidiosa se vai instituindo e parece ser branqueada por todos nós quando, nas urnas, exercemos o nosso direito de voto.

e que alternativa temos? emigrar!

se não fizesse um esforço diário para pensar que os governantes e os governos têm como principal objectivo a promoção do bem comum dos seus concidadãos, diria que eramos finalmente chegados ao deboche e à pornografia na política, no sentido em que tudo é permitido, exibido e dito, sem pudor e consideração pelo cidadão anónimo. tudo parece ser uma mentira. e não há vergonha!

nestes dias que correm, apenas o dinheiro liberta! salve-se quem puder!

sábado, 10 de dezembro de 2011

um segundo


agora não quero pensar...
o que mais me aborrece é que não confias em mim e achas
que me deixo levar pela mesquinhez dos pensamentos primários.
a traição não está no que fazemos com os outros mas no que fazemos a nós mesmos:
quando não conseguimos confessar uma coisa a nós mesmo, atraiçoamo-nos...
no espaço de breves momentos conseguimos destruir o que levou tempo a erguer...
pensa nisso um segundo...


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

espectro


há dias em que me sinto espectro,
ser descarnado, espírito, imaterial.
percorro a noite, espreitando portas e janelas,
procurando, ansiando, desejando,
na diferença dos rostos e dos corpos,
entre vidas, outra vida.
e não falo, nem sinto,
o meu rosto é uma ausência.
não chego a sentir,
a deslocação do ar onde me movo.
e no reconhecimento dos iguais que sempre encontro
mato solidão e silêncio,
onde me deixei aprisionar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

na caixa


chuva cai, chuva lava. chuva começou a cair com inesperada violência, desolando a cidade - imagem de filme triste. chuva que não lava a frustração que existe aqui: continuo fechado na caixa. quando penso que a saída está ali, uma cortina desce á bcoa de cena e reenvia-me para os bastidores, sem aplausos, sem pateadas, com sorrisos neutros nos rostos. ali, procuro resposta às questões, sempre as mesmas, às vezes com roupas diferentes, a chuva cai palpitante e encharca a cidade... o som dos pingos a cair nas vidraças, os pés que pisam as poças de água no chão. pingos, pingos e mais pingos. agachado na caixa, fechado, imagino: um dia vi-te e convidei-te para um passeio na praia. começou a chover e corremos a refugiar num abrigo. rimos com a boca e com os olhos - rimos um para o outro. a chuva era um sol radioso que se dispersava à nossa rota em gotas de luz.
a chuva não lava nada importante

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

bad song


you will never love me,
though I wish you would,
in this life we're not to be,
next time perhaps we could.
i saw you today,
strolling in the park,
followed you at a distance,
kept myself in the dark.
once my heart was divided
between two hearts of a kind,
guess it was my fault,
couldn't make up my mind.
so i let you drift away,
i simply saw you pack and go,
take every worthy moment with you,
putting an end to the show,
and I know,
you'll never love me,
though I really wish you could
in this life we're not to be,
next time perhaps we would...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

até quando?


agora vives comigo, todos os dias, tu e eu, no meu pensamento. levanto-me contigo, adormeço ao teu lado, envolves-me, veludo, quente, sensual, intenso, raio de luar. no teu ondular, - mar, -sustentas, convidas, dás-te a provar, depois recuas, escondes. mistério, - o beijo, - o teu beijo, o teu sabor, prolongado, intenso e húmido... não vou esquecer. até quando viver assim, dominado por ti?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

bendito o que dá


penso em ti,
insistentemente penso em ti,

vieste ocupar o meu espírito:
o teu corpo, os teus olhos, a tua boca

perco-me na tua boca, nos teus lábios cheios,
no teu sabor

em todo o teu sabor, conheço-te,
na tua entrega antecipo

o desatino que é não te ter aqui, sempre, presente

bendito o que dá, exigindo em troca,
porque dele será o reino do amor



terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sintonia


Pomezia é uma cidade de Itália, perto de Roma, inaugurada por Mussolini nos anos 30 do século passado.

Trabalhei em Pomezia três meses, entre Setembro e Dezembro de 1994. Ia para lá ao domingo e regressava à quinta-feira à noite. Não foram os meses mais felizes da minha vida. Foram os meses em que escrevi as minhas últimas cartas, devidamente endereçadas, seladas e enviadas por Correio.

Foram meses solitários, passados entre estranhos de várias nacionalidades, nenhum dos quais particularmente motivado para o que estava a fazer: um inglês, uma grega, um português e um casal de italianos.

Ao fim da tarde passeava na cidade.

O centro de Pomezia não era particularmente excitante. Uma cidade tão recente ainda não acumulara a "patine" caracteristica das cidades antigas, a arquitectura era aborrecida, a oferta parca. Hoje não faço a mínima ideia sobre como será. Nunca lá voltei.

Aos domingos jantava no restaurante do hotel, quase sempre vazio, esparguete carbonara. Além de ter aprendido a fazer carbonara com o "chef", observando os seus passos na cozinha, através dos vidros que separavam as duas dependências, adquiri o hábito de ler à mesa. É um hábito que perdura quando estou só num restaurante.

Não guardei boas memórias.

Em três meses visitei Roma um único fim de semana em que consegui atabalhoar São Pedro, as Piazzas, as ruínas romanas, o trânsito e a comida. Roma é magnífica! Procurei Anita Ekberg na Fonte de Trevi e passeei à noite pelo bairro de Trastevere. Não encontrei Anita e não fiquei aborrecido por isso. Não esperava encontrá-la.

Uma carta que escrevi em Pomezia, voltou à luz do dia. Datada de 4 de Outubro de 1994, começava por "Querida Esmeralda..."

Hoje, voltei a utilizar "Querida" referindo-me a essa amiga. Escrevi: " a sua amizade é imprescindível e querida". E acrescentei: "Há palavras que não sabemos usar, tem graça, querida é uma delas." A minha amiga respondeu: "A graça é que a sua famosa carta começa com: "Querida Esmeralda, nunca a tratei por querida pessoalmente..." A minha amiga remata, dizendo: Mesmo de longe o nosso pensamento está sintonizado".

Resta-me dizer que estas sintonias, com décadas, fazem bem ao coração.




quarta-feira, 14 de setembro de 2011

um pouco de ti


encontrei um pouco de ti na minha cama

encontrei a memória de uma noite
a marca do teu rosto na almofada,
o lençol abandonado ao levantar.

ainda senti o teu cheiro no quarto,
mas uma réstea, um cheiro frio e sem vida.
serviu para tornar a memória mais intensa e
a saudade mais dolorosa.

mesmo assim foi bom encontrar-te ali
e poder desejar que voltes.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Júnias


Mosteiro de Santa Maria de Júnias

Quando chegámos foi uma pequena vitória, sobre o desânimo, os obtáculos, a incerteza e sobre o tempo que demorámos a chegar.

Tenho pensado que foi como se tivéssemos feito uma viagem iniciática e finalmente alcançássemos o prémio.

Depois da subida do Gerês começou a verdadeira aventura e à serra sucederam-se planaltos e outros montes em que a paisagem se ia tornando menos simpática, mais agreste, mais inóspita. A temperatura baixou muito, caiu uma chuva de Outono a fazer pirraça a um Verão já envergonhado e depois, à medida que nos fomos aproximando do objectivo, uma neblina espessa foi cobrindo o horizonte próximo, isolando a terra, isolando-nos naquele mundo que podia ser imaginado mas que era, de facto, real. Os elementos pareciam querer proteger o segredo.

A tua mão descansou na minha perna, a sua pressão tornou-se mais intensa.

Foi curva seguida de curva, aldeia seguida por outra aldeia, lugar por outro lugar. A paisagem humana não conseguia vencer a paisagem natural. Nós íamos sofrendo a erosão que só o tempo causa. Alguns locais pareciam acabar antes de terem começado. Uma pequena vila encostada a um pequeno monte de pedregulhos enormes, todos empilhados, que pareciam em risco de colapso, permanecia impassível, adormecida num conto de fadas.


Subitamente foi necessário acender as luzes de nevoeiro. Mas percebemos que estávamos perto. O teu olhar que até aí estava um pouco desanimado, espelhou curiosidade. Que surpresa nos aguardaria?

Em Pitões pedimos indicações para o mosteiro. Soubemos

que teríamos de andar trezentos e tal metros a pé. Estacionámos e saímos para um ar frio e para uma chuva miudinha. Algumas vacas olharam com certo interesse para nós, uma lambeu-se, outra voltou a pastar. Começámos a descer para o Mosteiro, por um caminho empedrado e gasto.

Senti que pertencíamos ali ou que o lugar também nos pertencia. Quase acreditei numa vida prévia, ao ver e andar pelo meio daquelas ruínas. Olhámo-nos. Acho que sentias algo parecido. Não sei explicar, creio que ficámos ainda mais próximos, com um outro laço a prender-nos.

No mosteiro só havia névoa, ruínas e um jovem rio, antigo de séculos, que corria alegre por baixo de uma ponte de madeira em mau estado. Passámos a ponte, olhámos a água cristalina, sorrimos, sorrimos um para o outro. Depois fomos olhar pelo buraco da fechadura para dentro da capela. Na penumbra, a senhora sob a protecção do altar.

Há ainda uma árvore magnífica, o único ser que preside em permanência ao santuário. Árvore opulenta, entidade protectora daquele lugar sagrado.

Regressámos ao carro, revigorados. Fugimos dali com receio de ter de ficar para sempre. Apetecia deixarmo-nos prender ao lugar. Precisávamos de um local nosso, um marco, na memória.

Creio que conseguimos.


domingo, 7 de agosto de 2011

estrada


há um barulho de mar e há uma estrada de prata que percorreria contigo de bom grado mas,
tu não estás aqui...

assim, a tua ausência sobrepõe-se a qualquer ensaio da natureza sobre a beleza da noite junto ao mar.

o mar será sempre nosso, ou nós seremos sempre do mar, porque foi perto, junto a ele que nascemos um para o outro.

quando era pequeno olhava essa estrada de prata, feita pela lua no leito do mar e pensava que seria bom passear sobre ela, que seria sobretudo muito bom levar companhia.

fico a imaginar o nosso passeio, a nossa conversa... dariamos uns passos e um de nós iria parar de repente para apanhar uma concha, uma pedra polida que a onda deixara ao passar. iriamos rir e acabariamos por devolvê-la ao oceano.

há um beijo a meio do percurso, um beijo prolongado e intenso, feito de lábios e língua e de boca. na minha boca cabe a tua e na tua cabe a minha e num beijo cabem as nossas bocas que se alimentam destes momentos...

sim, estou só aqui, fisicamente só, mas sei que estás comigo.

sei que há muitas estradas de prata feitas pela lua num qualquer oceano e que um dia vamos percorrer essa estrada juntos.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Quote I - Martin Bauman de David Leavitt


" There is no pretty way to say this. I wanted to love Eli, I tried valiantly to love him , indeed, on some primitive level I probably did love him; but I didn't like him."
There, I've said it. I didn't like him."

Martin Bauman- David Leavitt - 2000 - Little, Brown and Company

terça-feira, 26 de julho de 2011

palavras novas


"Gruta de Fingal"
Escócia

já não tenho palavras novas,
só as antigas que já disse:
gosto! paixão, amor, sentimento,
muito, eu, tu, nós, juntos,
ligados, apaixonados, companheiros, amantes

mas com a permanência de ti,
o teu corpo, a tua existência,
reinvento palavras nas horas, no tempo
e sou capaz de as fazer soar jovens,
como tu és.
a frescura nos meus lábios,
o calor na minha pele.
o turbilhão em mim.

domingo, 17 de julho de 2011

contigo


paixão, paixão,
tás a dormir?
acorda paixão,
não tenho sono,
quero falar mais,
quero olhar para os teus olhos,
quero a tua boca a sorrir.

já te disse hoje que te amo?
estou a repetir-me?
desculpa, é que é mesmo verdade!
tão verdade, que já não faço sentido,
sem ti.

Espera, não acordes,
chega-te para lá um pouco,
deixa-me deitar ao teu lado,
vou-me aninhar em ti,
encostado, abraçado,
o teu calor é tão bom,
não acordes agora
quero ficar assim contigo.

beijo, paixão

terça-feira, 12 de julho de 2011

email VIII


estou a escrever porque há noites melhores do que outras.
há noites em que a lua é amiga e parece iluminar todo o caminho.
há noites em que a lua é nova, nem se vê e só há negro.

não estou com sono e apetecia-me falar um pouco contigo, um pouco mais...
não ia dizer nada que já não soubesses, fazia questão de falar disto e daquilo, de nada realmente importante, porque hoje já falámos de coisas importantes. seria provável acabar por te beijar e assim não ter que falar mais nada.

há um silêncio entre cada palavra dita e isso já todos sabemos.
sinto receio dessas pausas que, tantas vezes, adquirem significados maiores que o das palavras que definem. palavras são palavras e o seu significado vem no dicionário, quanto às pausas, o seu significado é definido por cada um de nós.

muitas vezes não sei o que ler em ti, nas tuas palavras e, sobretudo nas tuas pausas. por vezes és como a noite de lua nova e eu não encontro o caminho, por vezes parece que me engano.

não estou a fazer sentido.
o que queria mesmo dizer é que queria falar contigo mais um pouco, agora à noite.
quem sabe, não seja mais que um pretexto para te beijar outra vez.


sábado, 9 de julho de 2011

improbabilidade


improbabilidade somos nós
tu e eu, o nosso encontro.
improbabilidade pelo que nos separa,
improvável o destino que nos juntou.

e neste encontro
o fruto improvável:
vermelho como a paixão,
sim! carnudo, perfumado e apetitoso.

improbabilidade a união dos nossos pensamentos,
improvável a comunhão dos corpos -
boca, pele e sexo,
tão improvável e sem sentido, que sinto,
a probabilidade da nossa existência
como um

terça-feira, 5 de julho de 2011

palavras


gasto palavras procurando as melhores para te dizer que sinto,
um gosto na boca quando beijo a tua e me sabe a frescura,
na pele um gesto bruto, uma suposta carícia
e no corpo, o teu, vento quente de verão.

as palavras são curtas, menores.
talvez com o olhar que tudo diz,
diria amor.

domingo, 26 de junho de 2011

voltar


deixei-te hoje e logo depois queria voltar.
é a tua presença tão necessária à minha vida
que nada mais tem relevo quando estás longe.
pairo sobre os teus dias de ausência,
dias sem história, sem cor, sem perfume,
sem o teu calor, a tua luz.

esse encanto que me seduz,
esse ser que és tu.

voltar a ver


sexta-feira, 24 de junho de 2011

nome


soletra-me o teu nome ao ouvido,
em voz baixa, letra a letra
para que o fixe para sempre e
quando o ouvir novamente
reconheça que o tempo já passou.

sábado, 18 de junho de 2011

nós


a tua pele é a minha fronteira e nela encontrei a paz que procurava.
quando te olho sinto-me conquistado noutro olhar que é o teu.

esta paixão transporta-me para um eu mais vivo, real, verdadeiro.

quero a tua pele na minha porque te desejo.
quando o desejo é saciado, transforma-se em nova vontade de mais um dia contigo.

dias e dias formam uma história: tua e minha.

nós, é uma realidade que acordou e vive,
cujos ecos vão permanecer na nossa dimensão de eternidade.






segunda-feira, 13 de junho de 2011

viagens


gostava que este livro fosse o teu livro de viagens.

para viajar nem sempre precisamos sair do local onde nos encontramos. basta pensar, imaginar, fantasiar.

alguns desses pensamentos, algumas fantasias, alguns pedaços de imaginação tornam-se realidade e a viagem acontece. estamos sempre a viajar.

se de vez em quando vieres aqui e escreveres um pensamento, um sentimento, uma sensação, se lembrares alguém, poderás recordar etapas da tua viagem.

nunca viajamos sózinhos, levamos sempre as memórias, as experiências, as cicatrizes e as alegrias; levamos os olhos, a boca, as nossas mãos e a nossa pele. Às vezes levamos companhia, levamos alguém connosco.

viajar com alguém é sempre muito mais agradável: são, pelo menos, quatro olhos para ver o mundo, duas peles para sentir e quatro mãos para tocar.

agora, viajas comigo.

domingo, 22 de maio de 2011

espera


estou à tua espera agora,

como tantos dias estive à tua espera,

sabendo que não vinhas

e, mesmo assim, esperava.


antes não te conhecia e esperava,

antecipava a tua chegada,

as palavras com que te ia receber,

o meu sorriso, o teu sorriso.


agora que te conheço,

é diferente! sei que estás a chegar.

tu, assim, com a tua luz

o teu corpo, a tua voz


um ser que se move

em direcção a mim.

vais chegar!

e eu sempre estive à tua espera.

terça-feira, 10 de maio de 2011

certeza


nos teus passos vou encontrando o meu caminho e nas tuas palavras a minha voz.
queria despir o sentimento, torná-lo nu, não precisar de palavras para dizer o que é simples.
a tua sombra acompanha-me quando não estás presente e é com ela que o diálogo é mais intenso.
depois, quando regressas, tudo se acalma e há só certeza.






quarta-feira, 4 de maio de 2011

a tua ausência


sofro sobretudo a tua ausência,
quando se abre um vazio.
e pensar...
a dúvida ocupa o teu lugar
aí, não sei quem és, o que pensas,
o que fazes, com quem estás.
quando não estás comigo
a dúvida cruza o horizonte.
sinto-me derrotado,
deixas-me a esperança.

domingo, 1 de maio de 2011

onda


uma onda arrastou toda a memória
e só ficaste tu,
por isso agora ando na praia,
sem rumo e,
tu só, me descobres o caminho.





sexta-feira, 29 de abril de 2011

e-mail V


pensei em ti como um oásis.
que imagem batida, chumbada em nós:
tu o meu oásis, eu o teu.

vou-te secar com a minha sede, até não restar mais gota, veio, humidade.
vou-te cercar, impedir que outros te encontrem, te visitem, bebam de ti.
vou apagar a tua beleza, reduzir-te à areia do deserto que te envolve.
vou fazer isto tudo porque, confesso, quero-te só para mim.

porém, se fizesse isso,
não podia mais beijar a tua frescura ou acariciar o teu espelho;
banhar-me em ti, deixar-me envolver pelo teu abraço, adormecer à tua sombra.
não entendo esta paixão que se afoga, que se queima, que se imola.

se fizesse isso,
matava-te e depois morria

segunda-feira, 4 de abril de 2011

corredor


no sonho eu caminhava pelos corredores da casa, escutando o mínimo ruído, tentando identificar um sinal de vida. as paredes estavam cobertas por papel de parede dum tom verde seco com desenhos, lembrando o papel de parede de algumas casas inglesas. sobre este descansavam ou morriam, lentamente, cópias de quadros antigos, paisagens holandesas intercaladas com madonas renascentistas, acompanhadas da respectiva corte de santos. a iluminação era suficiente, não deixando o corredor cair numa penumbra críptica.

os meus passos eram seguros mas cautelosos. os sonhos podem ser traiçoeiros pelo que deve ser exercida alguma cautela, quando caminhamos por um corredor com demasiados ângulos rectos. nunca sabemos o que esconde uma esquina, uma mudança de direcção.

estaquei junto a uma porta que abri. tratava-se da cozinha e lá dentro, junto a uma das bancadas, a minha avó despejava o resto do puré de batata que sobrara do almoço de aniversário para dentro de uma taça de plástico. quando percebeu que eu estava ali, interrompeu o gesto que estava a fazer com a colher de pau, sorriu e começou a trautear uma melodia da beira alta com aquela voz característica de mulher do campo a cantar numa igreja. fiquei a olhá-la enquanto acabava a tarefa. "que foi, nunca viste?" perguntou. apeteceu-me responder que sim, uma e outra vez. vira tantas vezes aqueles mesmos gestos repetidos em tantos outros dias de aniversário e não aprendera nada com isso. fechei a porta e prossegui o caminho.

os corredores são tão intimidantes como qualquer outro espaço limitado em que parece não existirem horizontes laterais: só vemos uma extensão à nossa frente e temos a certeza de ter deixado uma extensão de dimensão variável atrás de nós mas, de um e outro lado, estamos limitados por paredes. Apetece-me colocar cada uma das minhas mãos em cada uma dessas paredes laterais e empurrá-las, obrigá-las à derrocada.

num outro quarto que abri com a mesma impulsividade, entro e vejo que é o quarto de alguém que acabou de falecer, o avô, ou mesmo o bisavô. quem quer que fosse deixou uma parte de si a desintegrar-se naquela atmosfera. sente-se que há uma presença que se vai desvanecendo lenta mas irremediavelmente. onde ficam os mortos depois de morrerem? no nosso coração?

há espelhos colocados naqueles corredores com intervalos calculados com todo o rigor. quando passo por eles, devolvem-me as mais variadas imagens de mim: uma criança, um velho decrépito, um homem maduro que resuma segurança, um adolescente, um homem que conhece o desencanto e a esperança. passo pelos vários reflexos impassível, sei que não posso mostrar qualquer tipo de nervosismo ou a ansiedade provocada, por me encontrar no corredor, vai tomar conta de mim, avassaladora.

quando finalmente saio para a rua vejo, em frente à casa, um pequeno lago e debruçada sobre ele uma árvore, cujo reflexo o lago devolve com simples perfeição. a visão é bela demais, envolvente e calmante. capturo lago, árvore e reflexo numa fotografia. é importante conservar memórias.

terça-feira, 29 de março de 2011

fugir


escondes-te, tentas fugir,

para que não te encontre,

nunca.


sucumbes ao regato fresco,

danças nas florestas altas,

escolhes o voo nocturno,

calas-te,

às vezes, calas-te

e não dizes

nada.


mas eu sempre te revelo num remoinho da água,

sempre te resgato em raios de sol entre os ramos,

sempre te descubro à luz da lua,

nas palavras que não queres dizer.


sempre encontro os teus passos,

sempre reconheço a tua sombra,

sempre estendo a minha mão,


quando é demasiado o cansaço

e escolhes voltar a mim


quarta-feira, 16 de março de 2011

sombra


nunca te despedes de mim,
nunca dizes adeus,
nunca partes de todo,
sempre deixas a tua sombra, qualquer coisa de ti,

fruto da paixão,
maduro, acre,
surpreende o palato,
gosto que não é fácil,

apagar

a tua sombra não me chega
e se o teu gosto me satisfaz,
morder, trincar, saborear,
a saudade de ti, não.

talvez,
um dia,
fiques.
quero que fiques

quarta-feira, 9 de março de 2011

um dia para a história


um dia assinalado pela tomada de posse do sr. presidente da república. um dia marcado pelo discurso de 40 minutos do sr. presidente da república em que o mesmo fez, uma vez mais, o diagnóstico da situação, prometeu uma magistratura activa, de cooperação institucional e em que não fez qualquer referência à Europa.

parece que foi um discurso incómodo para quase todos. a bem dizer nem governo, nem partidos, nem presidente sabem o que fazer com este país. o governo vive o dia a dia com a espada de dámocles suspensa sobre si, os partidos continuam a gerir a situação e a aproveitar cada oportunidade para enterrar o governo e o presidente confirma que vai ser um sinaleiro pronto a fazer soar o apito, sem dar mostras de querer agir em conformidade e por termo ao desnorte do governo.

o FMI vai entrar, a questão é quando e como. se não for o FMI será a alemanha a por ordem cá em casa.

a manifestação de dia 12 vai acontecer, a interrogação é quantos vão lá estar e quais as repercussões.

o país continua movendo-se lentamente, arrastando o seu peso, cansado e doente, sem vislumbrar quem lhe alivie o corpo. não falemos da alma...

não há ninguém que queira de facto ser um político para o presente, para o futuro, para a história, que dê um murro em cima da mesa e corte a direito.

ontem o space shuttle Discovery aterrou, terminando a sua última viagem. agora a Discovery
vai para o museu. por este facto, este dia ficará na história.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

no more


it broke inside,
as a stick it broke.
now, I stand with two matching halves.
with halves in my hands I stand.
can’t fix what is broken,
make it good again.

with broken pieces I stand.
as if hot iron bits in my hands.
i stand, unmoved, void.
a bittersweet memory,
of what is no more

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

sentimento bravo


sentimento bravo
corre por mim
explode, incendeia, regenera

mais vivo
primeiro voo
amanhecer

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

morte (de) velha


uma mulher com quase 90 anos foi encontrada morta em sua casa. estava morta desde 2002, caída no chão da cozinha, acompanhada por um cão, igualmente morto. só foi encontrada hoje.

eles são chamados de velhos, idosos, seniores, terceira idade, quarta idade. se não temos o azar de nos acontecer alguma coisa de definitivo que nos leve para outro horizonte, seremos idosos um dia.

as condições que a nossa sociedade proporciona aos idosos pioram. as condições que a sociedade proporciona às famílias para cuidar dos seus idosos são nenhumas. a vida não está para velhos, nem para novos.

como cuidar de um familiar idoso se temos que nos levantar todos os dias para ir trabalhar e estamos fora de casa, no mínimo, entre as oito da manhã e as sete da tarde. como cuidar dos idosos se temos que ir buscar as crianças ao colégio (para as quais temos pouco tempo!), trazê-las para casa, obrigá-las a fazer os trabalhos de casa, enfardar-lhes o jantar, deixá-las frente à televisão, porque assim não chateiam e metê-las na cama?

como cuidar de um idoso, o fim da linha, se não cuidamos dos filhos, se não cuidamos de nós?

porque neste vórtice a que chamamos vida, em que consumimos os dias, escravos da sociedade e de nós, não sabemos cuidar dos outros, filhos, pais, avós. as nossas prioridades estão invertidas e pensamos: um dia serei diferente, um dia vou parar, um dia, um dia... e quando o dia chega perdemos os filhos e perdemos os velhos. não sabemos cuidar de nós.

uma velha morreu no chão da cozinha de um apartamento da rinchoa. uma velha e um cão. foi notícia hoje e talvez ainda seja notícia amanhã. um dia destes, estes casos não serão mais uma notícia, mas algo habitual e já nem sequer estranho.

o ocaso da vida devia ser como um belo por-do-sol, não?

o sol desce sobre o horizonte inexoravelmente mas com uma calma sereníssima. mergulha espalhando cores e cores, tingindo o mundo em redor.

a velha que morreu na rinchoa não morreu só, morreu com um cão.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

ser


voo sobre a tua existência

procuro a frase que te define

nas pontas dos dedos que vejo

sobre a superfície da água

criando círculos concêntricos


são pedras postas à volta da lua

são sinais,

são marcos para me orientar


nem corpo, nem espírito

nem som, nem escrito

nem princípio, fim

ou destino


tu não existes

tão certo como eu

ser

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


fé é uma convicção sobre a verdade de alguma coisa sem qualquer prova que sustente essa convicção.

não tenho uma fé religiosa. o meu tímido agnosticismo cresce de uma necessidade de encontrar um sentido para o que aparentemente não o pede. o universo parece ser completamente alheio à minha existência e, no entanto, faço tão parte dele como um anel de saturno. se o anel de saturno existe por uma razão, eu também estou aqui por uma razão.

não tenho fé na política, nem na de esquerda nem na de direita. a política não serve o homem, cada vez mais serve-se a si própria com grande sentido de oportunismo.

não tenho fé em causas. as causas hoje parecem sub-produtos de estratégias maiores para nos distrair e ocupar.

mas tenho fé no homem enquanto indivíduo, na sua capacidade de altruísmo e de solidariedade, na sua imaginação e criatividade, na capacidade de fazer o mundo avançar.

há aqui alguma contradição, pois são tantos os exemplos de homens maus como de homens bons.

mas foram indivíduos, homens e mulheres, que sonharam, perseguiram e concretizaram sonhos e fizeram o mundo mudar.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

e-mail II


serei breve.

reina a absoluta confusão, já não sei o que pensar disto tudo. agora são várias as vozes que se embrulham no meu cérebro, como se ele já não tivesse circunvoluções suficientes. cada voz diz a sua coisa, cada uma tem o seu discurso e nem sempre concorrem no mesmo sentido.

sim, estou confuso. não sei se atiro tudo ao ar e deixo que caia em liberdade. tenho algum receio de ter que ir apanhar os cacos muito longe.

a tua importância é relativa. ainda não consigo classificar o que nos une com a exactidão que se impunha.

desejo um futuro, outro, qualquer coisa

ok. era só isto que tinha para dizer. não fizeste nenhuma pergunta, sou eu que quero dar-te respostas. não as tenho. é pena.

às vezes pergunto-me se a velocidade do olhar é semelhante à
velocidade da luz,
se um sopro consegue quebrar a barreira do som,
se é a voz que escraviza uma alma

enfim, devo continuar.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

get a life!


um amigo virtual encerrou o blog e a conta do facebook que mantinha há alguns anos.

alguém lhe enviou um comentário pouco simpático que terminava aconselhando, em inglês, a arranjar uma vida (Get a Life!).

o meu amigo virtual reflectiu, entre outras coisas, sobre a sua necessidade de expor nacos da sua vida, opiniões, comentários, preferências, etc aos olhos dos outros. chegou à conclusão que não precisava de o fazer e saiu do éter.

senti que lamentava a sua decisão. trata-se de uma pessoa culta e inteligente, uma personalidade interessante que habitava a rede e a blogosfera. tem um espírito crítico e o dom de colocar a nu as fraquezas, as presunções e o ridículo em que, tantas vezes, caímos, quer como indivíduos, quer como sociedade.

as "amizades" na rede divergem das nossas amizades de carne e osso porque temos a oportunidade de contactar com pessoas a quem nos une um ou outro gosto, uma ou outra preferência específicos, seja música, literatura, política, ciência, tecnologia, etc. são relações, em princípio, limitadas, filtradas e com grande especificidade. existem com um único fim e num ambiente delimitado. provavelmente encontraríamos essas pessoas na rua, trocaríamos umas palavras e seria óbvio nada existir, de mais abrangente, que nos unisse.

os críticos das redes não conseguem compreender, em primeiro lugar, exactamente o tipo de relações que se estabelecem.

será tão difícil compreender que numa época em que as relações entre as pessoas estão a ficar cada vez mais estéreis, em que não há muitos ideais por que lutar, perspectivas que perseguir, valores inabaláveis a conservar e em que a própria capacidade de sonhar é limitada, as pessoas precisem de criar os seus próprios oásis em que só têm de enfrentar o que querem?

contudo, compreendo que para alguns, mesmo estas soluções, blogs, redes sociais, se esgotem rapidamente...

...e com a ajuda de pessoas que, não tendo vida, resolvem vingar-se nos outros, é fácil bater com a porta.

sábado, 22 de janeiro de 2011

nevoeiro


nevoeiro sobre a terra, frio que encolhe o corpo. sopro as mãos. bafo que se confunde com a suspensão de humidade. O ar parece pedra.

não te vejo, não sei se estás aí, não sei sequer se alguma vez estiveste.

queria ouvir-te, porque o som da tua voz seria luz bastante, para me guiar

e o toque das tuas mãos iria dar-me o calor que me faria viver novamente.


eleições


um dia de reflexão para quê? um dia de reflexão para ponderarmos em qual dos candidatos presidenciais vamos votar.

um dia que não interessa para nada!

antecipa-se que a taxa de abstenção será das maiores de sempre em eleições presidenciais. cavaco silva garante a sua eleição sem problemas, certamente à primeira volta. nas circunstâncias que vivemos, não há como contrariar o facto - à partida, a reeleição do presidente em exercício está garantida.

contudo, o desinteresse por esta eleição bateu todos os recordes. por mim falo.

votar neste ou no outro candidato não fará qualquer diferença. não terá impacto na vida do país. Portugal não será nem melhor nem pior com cavaco ou com alegre, com a direita ou com a esquerda. estamos presos aos constrangimentos de uma situação interna decadente e sem horizontes e a uma situação externa que nos penaliza com a insensibilidade da linguagem económico/financeira.

o sistema político português está descredibilizado, foi apodrecendo às mãos de gerações políticas, sucessivas, de carreiristas que se preocuparam em gerir o presente e o curto prazo, a bem dos seus interesses e dos interesses dos seus partidos.

o problema em Portugal foi, é e será sempre a falta de educação: do povo e das elites que nos governam. os primeiros não têm consciência da sua necessidade pelo que nem a educação dos filhos promovem; aos segundos não interessa a educação das massas e nisso revelam a sua baixa formação.

ainda assim, amanhã, devemos votar.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

flower


there is a flower in your windowsill,
you took it from here,
you put it there.
i know it bloomed
and now you nourish it,
help it grow.

i wonder what it takes
to make a flower grow?
- caress its petals
- i'm sure you talk to it,
put your hands around the bloom,
protect it and whisper
soft, gentle words

you can't see a flower grow
with your eyes!
with your inner sight,
you have to feel it, isn't it?
inside you,
in your heart, some would say.

there is a flower in your windowsill,
blooming.
i don't know its colour,
i do know its beautiful.

don't ask me how,
i just do!

sábado, 15 de janeiro de 2011

confession


i confess i was waiting for you.

it is strange! there is this feeling of emptiness i cannot explain, it resides inside me and is difficult to get rid off.

when i was no longer expecting you - suddenly, there you were! and i got carried away, almost instantly.

it is true. solitude is a plain white board, where i can trace every step that dares to walk by, leaving a footprint.

i enjoy your presence so much!

i've been thinking about the reason, but there's no point in trying to disclose secrets so well kept by the inteligent recesses of the mighty universe. perhaps it is the music of the spheres playing a very beautifull tune or some occasional unsuspected fellings of want...

after i saw you tonight i was calm, as if taken to some peaceful shore.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

da sensualidade da música barroca

há uma qualidade na música barroca em geral e em Handel em particular que me delicia: a sensualidade.
é uma sensualidade feita de contenção e de grande intensidade, que penetra os poros de quem tem os canais abertos e se liga directamente aos controlos do prazer que se encontram no cérebro.
no barroco conta a atitude e a convenção. na música essa atitude é impregnada de intensidade que se revela na voz e nos apanha desprevenidos: é como um gesto, um olhar, uma meia palavra, uma carícia, tantas vezes apenas sugerida, adivinhada e que é expressa por pequenas modulações da voz e por uma melodia penetrante. o efeito é hipnotizante e por isso, é fácil, esquecer tudo e partir pelo sonho em direcção ao intangível.
ascender, transcender, fazer parte de algo mais vasto e superior, é possível também com a música barroca.
Bach é espiritual, Vivaldi apaixonado. Handel é sensual.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

paixão


os minutos e horas e dias que estamos juntos,
todas as palavras e palavras, sorrisos, gestos e sorrisos,
toda a descoberta, toda a surpresa,
os pensamentos, o som da tua voz que não ouço,
as cores e cores que adivinho,
todos os silêncios e ausências sentidos,
tudo, tudo alimenta um sentimento
e tem um nome.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

luz


hoje ofereceste-me a lua e eu quis dar-te o sol.
adiante pensei melhor, devolvi-te metade - o lado brilhante!
eu fiquei na sombra, onde não há ruído, onde posso dizer-te palavras ao ouvido,
que te fazem sorrir.
luz!