segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


fé é uma convicção sobre a verdade de alguma coisa sem qualquer prova que sustente essa convicção.

não tenho uma fé religiosa. o meu tímido agnosticismo cresce de uma necessidade de encontrar um sentido para o que aparentemente não o pede. o universo parece ser completamente alheio à minha existência e, no entanto, faço tão parte dele como um anel de saturno. se o anel de saturno existe por uma razão, eu também estou aqui por uma razão.

não tenho fé na política, nem na de esquerda nem na de direita. a política não serve o homem, cada vez mais serve-se a si própria com grande sentido de oportunismo.

não tenho fé em causas. as causas hoje parecem sub-produtos de estratégias maiores para nos distrair e ocupar.

mas tenho fé no homem enquanto indivíduo, na sua capacidade de altruísmo e de solidariedade, na sua imaginação e criatividade, na capacidade de fazer o mundo avançar.

há aqui alguma contradição, pois são tantos os exemplos de homens maus como de homens bons.

mas foram indivíduos, homens e mulheres, que sonharam, perseguiram e concretizaram sonhos e fizeram o mundo mudar.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

e-mail II


serei breve.

reina a absoluta confusão, já não sei o que pensar disto tudo. agora são várias as vozes que se embrulham no meu cérebro, como se ele já não tivesse circunvoluções suficientes. cada voz diz a sua coisa, cada uma tem o seu discurso e nem sempre concorrem no mesmo sentido.

sim, estou confuso. não sei se atiro tudo ao ar e deixo que caia em liberdade. tenho algum receio de ter que ir apanhar os cacos muito longe.

a tua importância é relativa. ainda não consigo classificar o que nos une com a exactidão que se impunha.

desejo um futuro, outro, qualquer coisa

ok. era só isto que tinha para dizer. não fizeste nenhuma pergunta, sou eu que quero dar-te respostas. não as tenho. é pena.

às vezes pergunto-me se a velocidade do olhar é semelhante à
velocidade da luz,
se um sopro consegue quebrar a barreira do som,
se é a voz que escraviza uma alma

enfim, devo continuar.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

get a life!


um amigo virtual encerrou o blog e a conta do facebook que mantinha há alguns anos.

alguém lhe enviou um comentário pouco simpático que terminava aconselhando, em inglês, a arranjar uma vida (Get a Life!).

o meu amigo virtual reflectiu, entre outras coisas, sobre a sua necessidade de expor nacos da sua vida, opiniões, comentários, preferências, etc aos olhos dos outros. chegou à conclusão que não precisava de o fazer e saiu do éter.

senti que lamentava a sua decisão. trata-se de uma pessoa culta e inteligente, uma personalidade interessante que habitava a rede e a blogosfera. tem um espírito crítico e o dom de colocar a nu as fraquezas, as presunções e o ridículo em que, tantas vezes, caímos, quer como indivíduos, quer como sociedade.

as "amizades" na rede divergem das nossas amizades de carne e osso porque temos a oportunidade de contactar com pessoas a quem nos une um ou outro gosto, uma ou outra preferência específicos, seja música, literatura, política, ciência, tecnologia, etc. são relações, em princípio, limitadas, filtradas e com grande especificidade. existem com um único fim e num ambiente delimitado. provavelmente encontraríamos essas pessoas na rua, trocaríamos umas palavras e seria óbvio nada existir, de mais abrangente, que nos unisse.

os críticos das redes não conseguem compreender, em primeiro lugar, exactamente o tipo de relações que se estabelecem.

será tão difícil compreender que numa época em que as relações entre as pessoas estão a ficar cada vez mais estéreis, em que não há muitos ideais por que lutar, perspectivas que perseguir, valores inabaláveis a conservar e em que a própria capacidade de sonhar é limitada, as pessoas precisem de criar os seus próprios oásis em que só têm de enfrentar o que querem?

contudo, compreendo que para alguns, mesmo estas soluções, blogs, redes sociais, se esgotem rapidamente...

...e com a ajuda de pessoas que, não tendo vida, resolvem vingar-se nos outros, é fácil bater com a porta.

sábado, 22 de janeiro de 2011

nevoeiro


nevoeiro sobre a terra, frio que encolhe o corpo. sopro as mãos. bafo que se confunde com a suspensão de humidade. O ar parece pedra.

não te vejo, não sei se estás aí, não sei sequer se alguma vez estiveste.

queria ouvir-te, porque o som da tua voz seria luz bastante, para me guiar

e o toque das tuas mãos iria dar-me o calor que me faria viver novamente.


eleições


um dia de reflexão para quê? um dia de reflexão para ponderarmos em qual dos candidatos presidenciais vamos votar.

um dia que não interessa para nada!

antecipa-se que a taxa de abstenção será das maiores de sempre em eleições presidenciais. cavaco silva garante a sua eleição sem problemas, certamente à primeira volta. nas circunstâncias que vivemos, não há como contrariar o facto - à partida, a reeleição do presidente em exercício está garantida.

contudo, o desinteresse por esta eleição bateu todos os recordes. por mim falo.

votar neste ou no outro candidato não fará qualquer diferença. não terá impacto na vida do país. Portugal não será nem melhor nem pior com cavaco ou com alegre, com a direita ou com a esquerda. estamos presos aos constrangimentos de uma situação interna decadente e sem horizontes e a uma situação externa que nos penaliza com a insensibilidade da linguagem económico/financeira.

o sistema político português está descredibilizado, foi apodrecendo às mãos de gerações políticas, sucessivas, de carreiristas que se preocuparam em gerir o presente e o curto prazo, a bem dos seus interesses e dos interesses dos seus partidos.

o problema em Portugal foi, é e será sempre a falta de educação: do povo e das elites que nos governam. os primeiros não têm consciência da sua necessidade pelo que nem a educação dos filhos promovem; aos segundos não interessa a educação das massas e nisso revelam a sua baixa formação.

ainda assim, amanhã, devemos votar.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

flower


there is a flower in your windowsill,
you took it from here,
you put it there.
i know it bloomed
and now you nourish it,
help it grow.

i wonder what it takes
to make a flower grow?
- caress its petals
- i'm sure you talk to it,
put your hands around the bloom,
protect it and whisper
soft, gentle words

you can't see a flower grow
with your eyes!
with your inner sight,
you have to feel it, isn't it?
inside you,
in your heart, some would say.

there is a flower in your windowsill,
blooming.
i don't know its colour,
i do know its beautiful.

don't ask me how,
i just do!

sábado, 15 de janeiro de 2011

confession


i confess i was waiting for you.

it is strange! there is this feeling of emptiness i cannot explain, it resides inside me and is difficult to get rid off.

when i was no longer expecting you - suddenly, there you were! and i got carried away, almost instantly.

it is true. solitude is a plain white board, where i can trace every step that dares to walk by, leaving a footprint.

i enjoy your presence so much!

i've been thinking about the reason, but there's no point in trying to disclose secrets so well kept by the inteligent recesses of the mighty universe. perhaps it is the music of the spheres playing a very beautifull tune or some occasional unsuspected fellings of want...

after i saw you tonight i was calm, as if taken to some peaceful shore.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

da sensualidade da música barroca

há uma qualidade na música barroca em geral e em Handel em particular que me delicia: a sensualidade.
é uma sensualidade feita de contenção e de grande intensidade, que penetra os poros de quem tem os canais abertos e se liga directamente aos controlos do prazer que se encontram no cérebro.
no barroco conta a atitude e a convenção. na música essa atitude é impregnada de intensidade que se revela na voz e nos apanha desprevenidos: é como um gesto, um olhar, uma meia palavra, uma carícia, tantas vezes apenas sugerida, adivinhada e que é expressa por pequenas modulações da voz e por uma melodia penetrante. o efeito é hipnotizante e por isso, é fácil, esquecer tudo e partir pelo sonho em direcção ao intangível.
ascender, transcender, fazer parte de algo mais vasto e superior, é possível também com a música barroca.
Bach é espiritual, Vivaldi apaixonado. Handel é sensual.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

paixão


os minutos e horas e dias que estamos juntos,
todas as palavras e palavras, sorrisos, gestos e sorrisos,
toda a descoberta, toda a surpresa,
os pensamentos, o som da tua voz que não ouço,
as cores e cores que adivinho,
todos os silêncios e ausências sentidos,
tudo, tudo alimenta um sentimento
e tem um nome.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

luz


hoje ofereceste-me a lua e eu quis dar-te o sol.
adiante pensei melhor, devolvi-te metade - o lado brilhante!
eu fiquei na sombra, onde não há ruído, onde posso dizer-te palavras ao ouvido,
que te fazem sorrir.
luz!