quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Júnias


Mosteiro de Santa Maria de Júnias

Quando chegámos foi uma pequena vitória, sobre o desânimo, os obtáculos, a incerteza e sobre o tempo que demorámos a chegar.

Tenho pensado que foi como se tivéssemos feito uma viagem iniciática e finalmente alcançássemos o prémio.

Depois da subida do Gerês começou a verdadeira aventura e à serra sucederam-se planaltos e outros montes em que a paisagem se ia tornando menos simpática, mais agreste, mais inóspita. A temperatura baixou muito, caiu uma chuva de Outono a fazer pirraça a um Verão já envergonhado e depois, à medida que nos fomos aproximando do objectivo, uma neblina espessa foi cobrindo o horizonte próximo, isolando a terra, isolando-nos naquele mundo que podia ser imaginado mas que era, de facto, real. Os elementos pareciam querer proteger o segredo.

A tua mão descansou na minha perna, a sua pressão tornou-se mais intensa.

Foi curva seguida de curva, aldeia seguida por outra aldeia, lugar por outro lugar. A paisagem humana não conseguia vencer a paisagem natural. Nós íamos sofrendo a erosão que só o tempo causa. Alguns locais pareciam acabar antes de terem começado. Uma pequena vila encostada a um pequeno monte de pedregulhos enormes, todos empilhados, que pareciam em risco de colapso, permanecia impassível, adormecida num conto de fadas.


Subitamente foi necessário acender as luzes de nevoeiro. Mas percebemos que estávamos perto. O teu olhar que até aí estava um pouco desanimado, espelhou curiosidade. Que surpresa nos aguardaria?

Em Pitões pedimos indicações para o mosteiro. Soubemos

que teríamos de andar trezentos e tal metros a pé. Estacionámos e saímos para um ar frio e para uma chuva miudinha. Algumas vacas olharam com certo interesse para nós, uma lambeu-se, outra voltou a pastar. Começámos a descer para o Mosteiro, por um caminho empedrado e gasto.

Senti que pertencíamos ali ou que o lugar também nos pertencia. Quase acreditei numa vida prévia, ao ver e andar pelo meio daquelas ruínas. Olhámo-nos. Acho que sentias algo parecido. Não sei explicar, creio que ficámos ainda mais próximos, com um outro laço a prender-nos.

No mosteiro só havia névoa, ruínas e um jovem rio, antigo de séculos, que corria alegre por baixo de uma ponte de madeira em mau estado. Passámos a ponte, olhámos a água cristalina, sorrimos, sorrimos um para o outro. Depois fomos olhar pelo buraco da fechadura para dentro da capela. Na penumbra, a senhora sob a protecção do altar.

Há ainda uma árvore magnífica, o único ser que preside em permanência ao santuário. Árvore opulenta, entidade protectora daquele lugar sagrado.

Regressámos ao carro, revigorados. Fugimos dali com receio de ter de ficar para sempre. Apetecia deixarmo-nos prender ao lugar. Precisávamos de um local nosso, um marco, na memória.

Creio que conseguimos.


1 comentário:

  1. Lembro-me como se fosse hoje. Obrigado pelos momentos únicos juntos num país que só os audazes conhecem e que só os aventureiros o podem contar!

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