terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sintonia


Pomezia é uma cidade de Itália, perto de Roma, inaugurada por Mussolini nos anos 30 do século passado.

Trabalhei em Pomezia três meses, entre Setembro e Dezembro de 1994. Ia para lá ao domingo e regressava à quinta-feira à noite. Não foram os meses mais felizes da minha vida. Foram os meses em que escrevi as minhas últimas cartas, devidamente endereçadas, seladas e enviadas por Correio.

Foram meses solitários, passados entre estranhos de várias nacionalidades, nenhum dos quais particularmente motivado para o que estava a fazer: um inglês, uma grega, um português e um casal de italianos.

Ao fim da tarde passeava na cidade.

O centro de Pomezia não era particularmente excitante. Uma cidade tão recente ainda não acumulara a "patine" caracteristica das cidades antigas, a arquitectura era aborrecida, a oferta parca. Hoje não faço a mínima ideia sobre como será. Nunca lá voltei.

Aos domingos jantava no restaurante do hotel, quase sempre vazio, esparguete carbonara. Além de ter aprendido a fazer carbonara com o "chef", observando os seus passos na cozinha, através dos vidros que separavam as duas dependências, adquiri o hábito de ler à mesa. É um hábito que perdura quando estou só num restaurante.

Não guardei boas memórias.

Em três meses visitei Roma um único fim de semana em que consegui atabalhoar São Pedro, as Piazzas, as ruínas romanas, o trânsito e a comida. Roma é magnífica! Procurei Anita Ekberg na Fonte de Trevi e passeei à noite pelo bairro de Trastevere. Não encontrei Anita e não fiquei aborrecido por isso. Não esperava encontrá-la.

Uma carta que escrevi em Pomezia, voltou à luz do dia. Datada de 4 de Outubro de 1994, começava por "Querida Esmeralda..."

Hoje, voltei a utilizar "Querida" referindo-me a essa amiga. Escrevi: " a sua amizade é imprescindível e querida". E acrescentei: "Há palavras que não sabemos usar, tem graça, querida é uma delas." A minha amiga respondeu: "A graça é que a sua famosa carta começa com: "Querida Esmeralda, nunca a tratei por querida pessoalmente..." A minha amiga remata, dizendo: Mesmo de longe o nosso pensamento está sintonizado".

Resta-me dizer que estas sintonias, com décadas, fazem bem ao coração.




1 comentário:

  1. Dizem que "as boas almas sempre se encontram". Tenho a vaidade de acreditar que somos boas almas e, mais do que isso, somos excelentes pessoas, com carácter e sabendo dar grande valor à amizade. O que nos une é irremediável. O tempo passa e esta amizade mantém a sua frescura como se nos tivéssemos conhecido ontem . Queridos ? Claro que somos amigos muito queridos, insubstituíveis e indispensáveis um ao outro. Já partilhámos tanta coisa.

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