domingo, 28 de outubro de 2012

praia




foi bom esta tarde passada na praia.

por momentos esqueci estes dias e tudo o que é revoltante: as traições, as injustiças e as iniquidades.

estava ali o sol, a areia e mais lá ao fundo o mar que cumpria uma recta no horizonte. mais perto a rebentação.

havia um casal passeando, um cão levado pela trela, uma criança a brincar na areia.

nós conversámos sobre quase tudo. os nossos dias e algumas noites, a política, a amizade, os livros, a música. não falámos de amor.

tirei o pullover e fiz questão de deixar os raios de um sol outonal aquecer a minha pele. espreguicei-me várias vezes. estava quase em paz, por momentos em paz.

a certa altura o som das vozes era um gostoso ruído de fundo que me fazia sentir acompanhado.

no meu egoísmo, não disse que era bom estar ali na companhia dos amigos. saberiam eles que tantas vezes penso quantos momentos assim ainda me serão dados viver?

e não falámos de amor

porque o amor tem o seu quê de impermanência e eu não queria que aquele momento terminasse.

deixemos o amor de lado. não precisamos estar sempre a falar de amor. não faz bem consumir análise sobre análise com o objectivo de concluir que passamos grande parte da vida atrás de um sentimento que nos está sempre a fugir.

alguém decidiu dar um mergulho no mar. foi revigorante imaginar a água fria a escorrer na pele. só a imagem é de uma beleza perfeita.

acendi outro cigarro e fumei com todo o tempo do mundo.
os gestos das suas mãos davam sentido às palavras.

não ouve um fim. a praia ainda lá está e nós ainda ocupamos as mesmas cadeiras. o sol ainda brilha e o mar, sempre o mar, ainda convida. alguém dá um mergulho e as vozes ainda se ouvem.

fala-se de tudo e de nada, mas não se fala de amor.



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