domingo, 16 de maio de 2010

uma semana cheia


a visita do papa, o novo pacote fiscal...

o que de facto me impressiona com papa ou sem papa é o que move as pessoas a convergirem movidas pela fé. agnóstico como sou, vivo uma espécie de religião solitária que se manifesta no imanente e no invisível, nas pessoas e nas coisas, nos actos e nos pensamentos. a minha é uma religião educada no judaico cristianismo e por isso também por ela influenciada. reconheço uma entidade uma ordem, um príncipio, mas vivo essa crença sem necessidade de demonstração e aceito a liberdade de acreditar sem a necessidade de uma prova científica que o justifique.

a necessidade humana de convergir em actos de fé move-me, faz com que inusitado, surja aquele arrepio na espinha que me deixa perplexo. na raiz destas manifestações está o mesmo impulso gregário onde assenta o clube de futebol, a opção por uma cor política, um conjunto de valores e conceitos partilhados que fazem convergir consciências. não será tão simples, mas é com toda a certeza uma das manifestações mais humanas, mais emotivas de que o homem é capaz. destas manifestações também partem as grandes solidariedades e as grandes intolerâncias.

dias depois de diana de gales ter morrido, estive em londres por razões profissionais. tinha acompanhado na televisão as manifestações populares junto do palácio de Kensington e quis ver com os meus próprios olhos. fui lá. foi uma das experiências mais estranhas da minha vida. os jardins do palácio estavam cheios de pessoas de várias nacionalidades, etnias e credos, todas manifestando o pesar e a tristeza que lhes ia na alma... um homem dos seus 30 anos estava sentado na relva na posição de lótus, tinha uma vela acesa à sua frente e rezava (não sei se é a palavra correcta!)mantras. aquela foi uma das noites mais estranhas e inexplicáveis que vivi. foi igualmente a manifestação mais democrática que me foi dado assistir.
há momentos em que, de facto, não consigo duvidar da existência de Deus.


o pacote fiscal foi anunciado e mais uma vez a sociedade portuguesa "de brandos costumes" engoliu-o com um copo de vinho tinto, uma azeitona, uma procissão das . velas presidida por sua santidade Bento XVI e depois ouviu um fado enquanto planeava ir assitir ao final da taça de Portugal no jamor. Não arrotou, mas vai andar com azia durante largos meses.

é injusto, é iniquo, é escandaloso.
somos governados por uma classe carreirista que não tem o bem comum como principal objectivo, apenas os interesses partidários e pessoais. deviam ter vergonha,... mas não têm. Não há justificação para isto, mas há a certeza de que não irá melhorar.

há um novo tipo de escravatura dissimulada que se abate todos os dias mais um pouco sobre nós. há uma economia imoral que cada vez mais irá provocar estas bolhas especulativas. e não há quem compreenda e ponha um travão a esta ordem mundial que nos vai levar a uma catástrofe certa.

poderiamos começar por boicotar todas as iniciativas do nosso governo e afins. ninguém comparecia ás inaugurações onde pontificam os ministros, ninguém aparecia para ver o presidente da república fazer mais uma das suas semanas diferenciadas num recanto perdido do país. Ninguém dava a cara até ficarem a falar sózinhos e corarem de vergonha.

este pacote fiscal não teve origem nas últimas semanas, nem nos últimos meses. este pacote fiscal foi concebido quando os nossos governos começaram a pensar no presente e deixaram de pensar no futuro.

Sem comentários:

Enviar um comentário