sábado, 12 de junho de 2010

das estátuas


as estátuas são seres aprisionados, cuja sentença é permanecer imóveis até a pedra ceder e já não ser possível enganar o tempo e a eternidade.

a eternidade não é para as estátuas. a eternidade é um conceito vazio que sobrevive da consciência, cuja principal referência é o homem e cujo principal aliado é o tempo.

as estátuas são personalidades capturadas no tempo, obrigadas a um pensamento longo, paciente e profundo. não podem renegar o ser e a emoção, não podem recusar, não podem dizer não.

quando as olhamos retribuem o olhar, ou fazem que nos olham de volta com olhares, ora curiosos, ora sofridos, ora alegres, ora desesperados. mas as estátuas só conseguem ver uma realidade.

a sentença das estátuas é dura e inapelável. o seu único alívio reside nos momentos em que a porosidade da pedra se rende aos elementos e então, adquire alguma maleabilidade à custa dos pedaços que vai perdendo - uma doença da pedra, uma lepra anunciada.

mas é o seu carácter que realmente importa: a gárgula que olha sonhadora(?), contemplativa, o céu de paris, do alto de notre dame; a cabeça de olhar vazio de antínoo; a dor e o abandono da pietá rondanini; toda a biografia de marco aurélio na sua estátua equestre; o corpo ao vento da vitória de samotrácia; os colossos da ilha da páscoa; a interrogação no olhar do d. sebastião de lagos, de joão cutileiro.

as estátuas escondem segredos... as estátuas não escondem segredo nenhum.

os segredos estão no nosso olhar, no que queremos ver nas estátuas.

é a tridimensionalidade das estátuas que as faz mais humanas - é a nossa dimensão que, tantas vezes, nos faz duros como estátuas.

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