domingo, 18 de julho de 2010

um rapaz à janela


na costa da escócia virada para a irlanda existem várias ilhas, as hébridas.entre elas, mull, iona e staffa.

partimos da cidade de oban - famosa pelo excelente whiskey - pela manhã e atravessamos de ferry para mull e num outro para iona. o mar está calmo e embala o barco. as gaivotas acompanham o nosso percurso, em voo ou descansando no convés.

iona é uma ilha muito pequena. lembro-me de atravessar duas ruas e um caminho até à abadia. as casas são cinzentas e o ambiente é um pouco agreste, mesmo no pino de agosto.

de súbito olho para uma casa e vejo um rapaz à janela. terá uns seis anos. está concentrado a jogar.

penso nas oportunidades que este rapaz terá, ali em Iona, uma ilha minuscula. sinto-me sufocar, tomado pelo pensamento de que poderia ser eu o rapaz à janela, criado naquela ilha de uma beleza agreste e sem as confortáveis ofertas da grande cidade.

fiquei especado a olhar o rapaz. tirei-lhe uma fotografia. ele deve ter pressentido algo, porque levantou os olhos do jogo e o seu olhar encaixou no meu. sorriu.

foi como se tivesse aberto as portas do seu mundo para me mostrar. pelo sorriso percebi que era feliz na ilha e que crescer ali não queria dizer nada. poderia ser tudo o que quisesse, ali ou noutro lugar. e o mar não seria obstáculo, antes a corrente que o acompanharia sempre.

senti-me cheio de preconceitos e mesquinho - tirar conclusões sem conhecer.

ás vezes basta um sorriso para se compreender tudo.

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